Sedactivo / Selectivo


UMA POR DIA

Só ares

Com o pressentimento político que se lhe conhece, Mário Soares lançou ontem um sério aviso ao PS, através das páginas do “Diário de Notícias”, para as situações de pobreza e de desigualdades sociais, resultantes “deste capitalismo do desastre”, que colocam Portugal num plano tão socialmente desigual e injusto quanto “a América de Bush”.João Paulo GuerraAdvertindo que avisa o PS porque “quem vos avisa vosso amigo é”, Mário Soares sugeriu aos actuais responsáveis socialistas “uma reflexão profunda” sobre a pobreza e as desigualdades em Portugal, que tão notórias se tornaram nos índices europeus, o descontentamento das classes médias, a saúde, a educação, o desemprego. Enfim, com tempo para uma actualização das leituras de esquerda, Soares recomendou aos governantes socialistas que façam o que ele lhes diz e não o que ele fez enquanto governante.Senão, o que é que acontece? Os fundamentos da democracia portuguesa afundam-se em desigualdades pelo menos tão gritantes como as que existiam no tempo do “regime anterior”, uma parte considerável dos portugueses sofre na mais apagada e vil pobreza? A questão não é essa. A questão é que se o PS não apresenta, “rapidamente”, uma simulação de sensibilidade social, uns arezinhos de esquerda – mesmo que sejam só… ares –, “o PCP e o Bloco de Esquerda continuarão a subir nas sondagens, inevitavelmente”. Disse Mário Soares e agora não diga o PS que ninguém o avisou. O grau de empedernimento do PS actual e do respectivo Governo em relação às questões sociais é de tal monta que Mário Soares se sente na necessidade de lançar o aviso. Senão, vêm aí o PCP e o Bloco de Esquerda, o “Gonçalvismo” e o PREC. E depois? Depois o Pai Natal… “pumba”… come o coelhinho…

jpguerra@economic
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1128321.htmlasgps.com

Aconselha-se

A Fome Infame

O escândalo do enriquecimento de alguns à custa da fome e subnutrição de milhões já não pode ser disfarçado com as «generosas» ajudas alimentares. Tais ajudas são uma fraude que encobre outra maior: as políticas económicas neoliberais que há 30 anos têm vindo a forçar os países do Terceiro Mundo a deixar de produzir os produtos agrícolas necessários para alimentar as suas próprias populações e a concentrar-se em produtos de exportação, com os quais ganharão divisas que lhes permitirão importar produtos agrícolas... dos países mais desenvolvidos. Quem tenha dúvidas sobre esta fraude que compare a recente «generosidade» dos EUA na ajuda alimentar com o seu consistente voto na ONU contra o direito à alimentação, votado por todos os outros países.

Artigo completo aqui http://aeiou.visao.pt/Opiniao/boaventurasousasantos/Pages/Afomeinfame.aspx

Soltas... E Com Dono

Em Portugal, um jovem de direita que não seja liberal não tem irreverência. Um velho de direita que continue liberal não tem juízo.

Jaime Gama considera que Alberto João Jardim é "exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo".
Valentim Loureiro e Ferreira Torres ficaram com ciúmes.

Daniel de Oliveira em http://clix.expresso.pt/gen.pl?sid=ex.sections/23493

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cooperação ou Luta?

Alternativa. O britânico Kevin Foster defende, ao contrário da teoria desenvolvida por Charles Darwin, e seguida durante séculos, que a cooperação entre elementos da mesma ou diferentes espécies pode ser a melhor forma de o grupo se desenvolver. Teoria que apresentou sexta-feira passada no Porto

Foster faz alerta para falhas na teoria de Darwin

Está assente na sociedade actual a teoria da evolução das espécies desenvolvida por Charles Darwin, cujo princípio reside na ideia de que só os melhores indivíduos de uma espécie conseguem sobreviver. Teoria que Darwin aplicou sobretudo ao nível biológico, mas que, com o passar dos anos, acabou por ser aplicada também ao nível da competição económica e social.

Porém, ao longo dos anos, cientistas houve que afirmaram que a teoria darwinista continha pontos inexplicáveis. Tal visão é actualmente seguida pelo britânico Kevin Foster. No entender deste jovem cientista de 32 anos, que tem dado continuidade ao trabalho desenvolvido por William Hamilton, existem casos de cooperação entre indivíduos que não encaixam no princípio básico de Darwin. Por isso mesmo, Foster defende que o altruísmo é uma das formas que a natureza encontra para se valer a si mesma. Contrariando, desta forma, a "lei do mais apto", derivada da visão original de Darwin. Uma nova abordagem que, no entender de alguns elementos comunidade científica internacional, poderá pôr em marcha o repensar das sociedades actuais.

Isso mesmo procurou demonstrar sexta-feira, num simpósio subordinado ao tema "Homeostasia, a luta pelo equilíbrio?", realizado no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), no Porto. Durante o discurso Kevin Foster frisou que "a cooperação está em todo o lado". "Os genes juntaram-se nos genomas, as células trabalham juntas nos organismos multicelulares e os animais cooperam nas sociedades", defendeu o jovem cientista. Que lembra, porém, que esta é uma tese que afronta a teoria darwinista da competição como melhor estratégia para o sucesso.

Para melhor clarificar a tese, Foster exemplificou com experiências realizadas em laboratório e cujos resultados, afirmou, comprovam que a cooperação entre elementos da mesma espécie é a melhor forma de sobreviverem. Cooperação que, defendeu, em alguns casos, é levada ao extremo e só através do sacrifício as células conseguem sobreviver.

Um dos exemplos que Kevin Foster usa parte do caso do corpo humano, em que as células são geneticamente idênticas pelo que não há qualquer conflito nas tarefas que cada uma tem de desempenhar no organismo. Porém, defende o sociobiólogo britânico, existem grupos que não contêm matéria genética idêntica, pelo que não se justificaria esta cooperação entre espécies.

http://dn.sapo.pt/2008/06/16/ciencia/cooperacao_pode_forma_sobrevivencia.html

Bode Espiatório

Em todas as sociedades, nos períodos de tensão, as pessoas procuram um bode expiatório em quem depositar todas as culpas.

É frequente estarmos convencidos de fazer juízos de valor pessoais e independentes, mas de facto deixamo-nos influenciar por esquemas mentais e emocionais. Ou seja, deixamo-nos arrastar por forças colectivas que podem levar-nos a cometer erros ou excessos.

Um destes esquemas mentais é a imitação. Aprendemos com os outros, imitando-os. É assim que as crianças aprendem a falar, a andar, a brincar, a pensar e até mesmo a desejar. Vejamos o exemplo de dois irmãos, a quem apresentamos um objecto qualquer, por exemplo uma bola. Ninguém lhe liga até um pegar nela e nessa altura o outro passa também a querê-la. Nós desejamos as coisas dos outros. E, acima de tudo, as coisas que são admiradas por todos. É assim que nasce a inveja. Mas, paradoxalmente, também é assim que nasce a adoração pela estrela, pelo chefe. Se todos os admirarem, também acabaremos por considerá-lo extraordinário.

Do mesmo modo, também imitamos a violência. Quando lhe levaram a adúltera que ia ser apedrejada, Jesus deteve-os, dizendo: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Ele sabia que, se alguém o fizesse, os outros iriam imitá-lo. Em todas as sociedades, nos períodos de tensão, as pessoas procuram um bode expiatório em quem depositar todas as culpas.
Manzoni conta-nos que, durante a peste, as pessoas acusavam os “disseminadores”, que depois eram torturados e mortos.

Os tiranos em dificuldades sempre apontaram ao povo um inimigo a atacar. Estaline mandou massacrar os camponeses. Os turcos, durante a guerra mundial, indicaram como bode expiatório os arménios, que morreram de fome e na miséria. Hitler atacou os judeus. Contudo, até mesmo nas democracias, há períodos em que os políticos caluniam um inimigo até que os outros o agridam como cães raivosos.

Não podemos pensar estar imunes a estas forças. Na política, também nos deixamos seduzir pelos inquisidores. Depois, seguimos passivamente as opiniões dos nossos jornais, dos nossos amigos, lemos os livros indicados como ‘best-sellers’, admiramos as estrelas que são admiradas por todos. O juiz de valor independente e pessoal é difícil e raro. E por favor nada de confusões com o anti-conformismo, que é arrogante e espalhafatoso, e procura o êxito e o aplauso. Pelo contrário, a capacidade de avaliação pessoal amadurece na solidão, com a reflexão e a dúvida e exige saber observar o mundo com curiosidade, com admiração, com ingenuidade, com coração puro. Tudo coisas que, habitualmente, não sabemos fazer.

http://www.alberoni.it/
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1135282.html
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sábado, 31 de maio de 2008

País a Pontapé


Quando regressarmos ao que efectivamente somos, estaremos, de novo, orgulhosamente sós. Sempre entre futebol e Fátima, entre um golo e uma oração. E de regresso ao velho fado

A mentalidade submissa. Os dias engarrafados, anestesiados.

O presente em zapping, sem comando, visto do sofá.

O futuro daqui a nada, mas pré-pago, panorâmico e digital.

A liberdade de sermos apenas o que quiserem fazer de nós.

Financiaram-nos o que não queríamos nem precisávamos, a juros bonificados.

Depois, em suaves prestações ou pagando mais tarde. No fim de contas, levam-nos a pele, os ossos, os sonhos, como sinal. E uma vida inteira para amortizar.

Foi lá atrás que deixamos de ser cidadãos para passarmos a clientes.

Fazemos downloads das nossas ansiedades e vamos para a cama com o messenger.

Taxaram-nos a esperança, o horizonte, o hoje para financiar o amanhã.

Disseram-nos que, em última instância, o Estado regularia, velaria por nós. Só não nos disseram que o Estado já era também cliente, jogava na bolsa e no «off-shore», tinha vícios caros e amantes no privado. Esconderam-nos que o Estado já nem sequer regula bem. E, às vezes, não regula de todo.

Não sei quando começaram a falar-nos de livre iniciativa, economia de mercado, liberalização disto e privatização daquilo. Tudo em nosso nome, iríamos perceber a sensação. A concorrência em benefício do consumidor, mais opções, melhor qualidade. Não nos disseram o que queriam em troca. Não nos disseram quanto custava. Não perguntamos. E agora descobrimos que o seguro não cobre todos os riscos.

Aqui, despede-se e «reestrutura-se» em almoços de camarão da costa, moet & chandon e jaguar à porta. Congelam-se ordenados entre baldes de gelo e um «15 anos.» Fumam-se quatro salários mínimos em charutos, por mês, a discorrer sobre a crise e as dificuldades das empresas.

Original ou réplica, somos o que vestimos.

Somos igualmente o que viajamos, o que compramos, o que almoçamos, o que vemos. Não sei quando deixamos de ser simplesmente…humanos.

Votamos pouco e mal, mas elegemos convictamente marcas e anúncios, estamos decididos a ser a geração Nike ou Adidas e a referendar a Gant ou a Armani.

Aceitamos ficar sem tecto e almoço, mas nunca sem rede.

Vamos a Cancun, Natal e Varadero para ser vistos e mostrar que lá estivemos.

Por vezes, jantamos comida de design porque é «moda» e estamos na moda porque é «in».

Pagamos e bebemos água como se fosse Barca Velha.

Buscamos o caminho mais curto para a existência e o equilíbrio emocional no spa, no pilates, na auto-ajuda e no quem nos acuda. Ao farmacêutico, ao psiquiatra e ao personal trainer só falta serem amigos lá de casa.

Endividamo-nos de ilusões, maquilhamos as feridas e angústias, retocamos a ideia que temos de nós e envelhecemos alegremente: tristes e infelizes, mas mais novos, saudáveis e atléticos graças à cirurgia estética e ao ginásio, IVA incluído.

Somos o zero à esquerda das decisões, a estatística gorda da fome, da pobreza, da desigualdade, a escanzelada percentagem de decência e dignidade. Somos, como numa cantiga, «intelectuais de bronzeado» e «elite de supermercado». Somos tema de conferências e colóquios, objecto de sondagens e estudos. Estamos nos resultados, mas nunca entramos na equação. Subtraem-nos nos lucros e fazem-nos cúmplices de prejuízos.

Mas, felizmente, nem tudo está perdido.

Por estes dias, vamos pôr uma bandeirinha na varanda, o disco do Roberto e do Tony, o cachecol no pescoço e comprar «sem juros, pague depois» aquele plasma muito em conta para ver o Ronaldo em grande e os filmes dos pequenos. Gritaremos até às entranhas pela pátria, pela finta, pelo cruzamento, pelo remate. Faltaremos ao trabalho, à família, aos amantes, à «manif» e aos compromissos. Em Junho seremos todos portugueses, todos iguais, todos diferentes: ninguém cobrará dívidas, até porque ninguém as pagaria. Estaremos todos por Portugal em harmonia fiscal. Chamaremos Scolari de nosso, abriremos conta «no banco de sempre» e correremos atrás do autocarro da Galp e da selecção como no anúncio da televisão porque, entretanto, até boicotamos a gasolina.

De festinha em festança, talvez a sorte nos sorria a pontapé ou à cabeçada.
Quando regressarmos ao que efectivamente somos, estaremos, de novo, orgulhosamente sós. Sempre entre futebol e Fátima, entre um golo e uma oração. E de regresso ao velho fado.

Via: http://aeiou.visao.pt/Opiniao/miguelcarvalho/Pages/Paisapontape.aspx

terça-feira, 27 de maio de 2008

Indecoro


O peixe pode vir a faltar nos mercados.

João Paulo Guerra

O arroz já está a ser racionado em certas cadeias de supermercados. Agricultores vão deixar os tractores e voltar às charruas puxadas a animais. E o Governo considera “indecoroso” mexer nos preços dos combustíveis.

O tipo de organização económica e social baseado na ditadura da finança, na especulação, na promoção da desigualdade e da injustiça é um fiasco que apenas faz regredir a história.

A par das notícias da crise há novas sobre a acumulação obscena da riqueza: empresas que só conhecem a receita dos despedimentos para emagrecer as despesas duplicam os quadros de administração com remunerações e outras benesses escabrosas. Os lucros que ofendem a vida de dificuldades da imensa maioria da população não admitem correr o mínimo risco: qualquer flutuação dos custos é imediatamente descarregada sobre os consumidores.

E o Estado ajuda à festança carregando os impostos de uns e descarregando emolumentos para outros.

Contava o Público de ontem que as Finanças têm em estudo uma proposta para pôr as grandes fortunas a salvo de credores privados, do Fisco e da Segurança Social.

Já nem sequer se trata do desrespeito pelo princípio constitucional da subordinação do poder económico ao poder político eleito. Trata-se da apropriação do aparelho de Estado pelo poder do dinheiro em seu exclusivo e abusivo benefício.

A ser verdade estaremos perante o mais vexatório sentido do que é e deve ser o Estado, numa concepção e numa prática, essas sim, verdadeiramente indecorosas. Se a notícia se confirma, isso significará, muito simplesmente, o fim da democracia e do Estado de direito.

Custa a crer mas esse será, verdadeiramente, o Estado… a que isto chegou.

jpguerra@economicasgps.com

Pobreza e Desigualdades

Talvez o melhor comentário a este artigo de Mário Soares seja este desenho, feito por um seu conhecido de longa data, que lhe deve ter falado das consequências de estender a mão à direita quando a força desta desfalecia.

Mário Soares

Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com o Relatório da União Europeia (Eurostat) e o trabalho, coordenado pelo Prof. Alfredo Bruto da Costa, do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS), intitulado "Um olhar para a pobreza em Portugal", divulgados há dias, que coincidem em alertar para o facto de a "pobreza e as desigualdades sociais se estarem a agravar em Portugal".

Desenho Inédito de Álvaro Cunhal. Via: Tempo das Cerejas



Surpreendido não fiquei. Mas chocado e entristecido, isso sim, por Portugal aparecer na cauda dos 25 países europeus - a Roménia e a Bulgária ainda não fazem parte da lista - nos índices dos diferentes países, quanto à pobreza e às desigualdades sociais e, sobretudo, quanto à insuficiência das políticas em curso para as combater.

Recentemente, cerca de 20 mil cidadãos portugueses, impulsionados pela Comissão Justiça e Paz, dirigiram à Assembleia da República um apelo aos legisladores para aprovarem uma Lei que considere a pobreza uma violação dos Direitos Humanos. Foi uma manifestação de consciência cívica e de justa preocupação moral - que partilho - quanto à pobreza crescente na sociedade portuguesa.

E acrescento: a revolta quanto às escandalosas desigualdades sociais, que igualmente crescem, fazendo de Portugal, trinta e quatro anos depois da generosa Revolução dos Cravos, o país da União Europeia socialmente mais desigual e injusto, ombreando, à sua escala, naturalmente, com a América de Bush...

Ora, a pobreza e a riqueza (ostensiva e muitas vezes inexplicável) são o verso e o reverso da mesma moeda e o espelho de uma sociedade a caminho de graves convulsões. Atenção, portanto.

Eu sei que o mal-estar social e as dificuldades relativas ao custo de vida que, hoje, gravemente afectam os pobres, mas também a classe média - e se tornaram, subitamente, muito visíveis, por força da comunicação social - vêm de fora e têm, evidentemente, causas externas. Entre outras: o aumento do preço do petróleo, que acaba de atingir 135 dólares o barril; a queda do dólar, moeda, até agora de referência; o subprime ou crédito malparado, em especial concedido à habitação (a bolha imobiliária); a falência inesperada de grandes bancos internacionais e as escandalosas remunerações que se atribuem os gestores e administradores; o aumento insólito do preço dos géneros alimentares de primeira necessidade (cereais, arroz, carne, peixe, frutas, legumes, leite, ovos, etc.); a desordem geostratégica internacional (com as guerras do Afeganistão, do Iraque e do Líbano, a instabilidade do Paquistão, o eterno conflito israelo-palestiniano e as guerras em África); o desequilíbrio ambiental que, a não ser de imediato corrigido, põe o Planeta em grande risco; a agressiva concorrência dos países emergentes, que antes não contavam; etc...

Tudo isto configura uma situação de crise profundíssima a que a globalização neoliberal conduziu o Mundo, como tantas vezes disse e escrevi.

Uma crise financeira, em primeiro lugar, na América, que está a alargar-se à União Europeia, podendo vir a transformar-se, suponho, numa crise global deste "capitalismo do desastre", pior do que a de 1929.

Uma crise também de civilização que está a obrigar-nos a mudar de paradigma, tendo em conta os países emergentes, e os seus problemas internos específicos, uma vez que o Ocidente está a deixar de ser o centro do mundo.

Não alimentemos ilusões.Claro que com o mal dos outros - como é costume dizer-se - podemos nós bem. É uma velha frase que hoje deixou, em muitos casos, de fazer sentido. Vivemos num só Mundo em que tudo se repercute e interage sobre tudo. No entanto, no nosso canto europeu, deveremos fazer tudo o que pudermos, numa estratégia concertada e eficaz, para combater a pobreza - há muito a fazer, se houver vontade política para tanto - e também para reduzir drasticamente as desigualdades sociais.

Até porque, como têm estado a demonstrar os países nórdicos - a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia - as políticas sociais sérias estimulam o crescimento, contribuem para aumentar a produção e favorecem novos investimentos. Este é o objectivo geostratégico para o qual deveremos caminhar, se quisermos evitar convulsões e conflitos.

Depois de duas décadas de neoliberalismo, puro e duro - tão do agrado de tantos que se dizem socialistas, como desgraçadamente Blair - uma boa parte da Esquerda dita moderada e europeia parece não ter ainda compreendido que o neoliberalismo está esgotado e prestes a ser enterrado, na própria América, após as próximas eleições presidenciais.

A globalização tem de ser, aliás, seriamente regulada, bem como o mercado, que deve passar a respeitar regras éticas, sociais e ambientais. Em Portugal, permito-me sugerir ao PS - e aos seus responsáveis - que têm de fazer uma reflexão profunda sobre as questões que hoje nos afligem mais: a pobreza; as desigualdades sociais; o descontentamento das classes médias; e as questões prioritárias, com elas relacionadas, como: a saúde, a educação, o desemprego, a previdência social, o trabalho. Essas são questões verdadeiramente prioritárias, sobre as quais importa actuar com políticas eficazes, urgentes e bem compreensíveis para as populações. Ainda durante este ano crítico de 2008 e no seguinte, se não quiserem pôr em causa tudo o que fizeram, e bem, indiscutivelmente, para reduzir o deficit das contas públicas e tentar modernizar a sociedade.

Urge, igualmente, fortalecer o Estado, para os tempos que aí vêm, e não entregar a riqueza aos privados. Não serão, seguramente, eles que irão lutar, seriamente, contra a pobreza e reduzir drasticamente as desigualdades. Já uma vez, nestes últimos anos, escrevi e agora repito: "Quem vos avisa vosso amigo é." Há que avançar rapidamente - e com acerto - na resolução destas questões essenciais, que tanto afectam a maioria dos portugueses.

Se o não fizerem, o PCP e o Bloco de Esquerda - e os seus líderes - continuarão a subir nas sondagens. Inevitavelmente. É o voto de protesto, que tanta falta fará ao PS em tempo de eleições.

E mais sintomático ainda: no debate televisivo da SIC que fizeram os quatro candidatos a Presidentes do PPD/PSD, pelo menos dois deles só falaram nas desigualdades sociais e na pobreza, que importa combater eficazmente. Poderá isso relevar - dirão alguns - da pura demagogia. Mas é significativo. Do que sentem os portugueses. Não lhes parece?...

Via : http://dn.sapo.pt/2008/05/27/opiniao/pobreza_e_desigualdades.html

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Liberais de Conveniência

Ciclicamente aparecem os ideólogos do 'liberalismo de rosto humano' para modernizar a esclerosada direita nacional.

No CDS foi a ala de Pires de Lima que morreu ainda antes de nascer.

Agora, no PSD, é Pedro Passos Coelho. É provável que ganhe o partido, pouco familiarizado com debates ideológicos, mas quando andar à conquista de votos terá de meter a viola liberal no saco.

Na verdade, não faltam liberais em Portugal quando se fala de privatizações de serviços públicos.
Durão Barroso defendeu a privatização da CGD. Passos Coelho também defende. Um esqueceu e outro esquecerá, porque os empresários nacionais precisam de um banco público para as horas difíceis.

Os nossos liberais fazem voz grossa contra a intervenção do Estado na economia mas desaparecem quando se assinam acordos com a Lusoponte ou quando empresas de construção civil financiam os partidos de poder à espera de bons negócios.

Não faltam liberais para flexibilizar as leis laborais.

Mas os liberais somem-se quando administradores decidem para si próprios indemnizações pornográficas que lhe garantem segurança até ao fim da vida.

Não faltam liberais em defesa de impostos mais leves para as empresas. Mas os liberais transfiguram-se para pedir ao Estado que garanta que os 'centros de decisão' não saiam do país.

Em Portugal há apenas liberais de conveniência, de que Passos Coelho é apenas mais um exemplo: há que parecer diferente de Sócrates. Mas não vale a pena levar-se demasiado a sério.

O centrão apenas gere privilégios.

Quando o mais fraco se trama chamam-lhe liberalismo. Quando o mais forte se safa chamam-lhe interesse nacional. Podem aparecer franco-atiradores à procura do seu nicho de mercado, mas depois passa-lhes.

Descobrem que a elite que os sustenta vive há décadas protegida por um mercado condicionado. Não quer menos Estado. Quer o Estado só para si.

Em Portugal, um jovem de direita que não seja liberal não tem irreverência. Um velho de direita que continue liberal não tem juízo.
Consenso cubano
George Bush usou o Parlamento israelita para atacar Obama e compará-lo com Chamberlain. Obama agradeceu. Ter os republicanos reféns de Bush é tudo o que ele precisa. Ter os seus adversários a atacá-lo em visitas ao estrangeiro ainda melhor. O argumento, que McCain acompanha, é sempre o mesmo: Obama é um apaziguador. A acusação foi feita a propósito do Irão, do Hamas e, esta semana, foi a vez de Cuba. Tudo porque Obama tem defendido uma velha invenção da civilização: a diplomacia.

Refém da extrema-direita cubana de Miami, que já levou os EUA a desastrosas aventuras, as sucessivas administrações têm mostrado uma estupidez assinalável nas relações com Havana. As evidências deviam ter feito pensar: o bloqueio a Cuba, de qualquer ponto de vista injustificável, tem dado à família Castro todos os argumentos para manter a retórica de guerra e unir o orgulhoso povo cubano contra o inimigo comum. É fácil de explicar mas tem sido difícil de entender: a democratização cubana nunca passará por um envolvimento directo de Washington e ainda menos dos ressabiados de Miami. Esse é o único consenso em Cuba.

Daniel Oliveira
Via: http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/328727

Estado de Sítio


26 Maio 2008 - 09h00

Celeiro de Portugal
“Este sítio pobre não aprendeu nada com o passado salazarista e sempre que pode deixa cair a máscara moderna livre e democrática”.



O Mundo está em crise.

O sítio não escapa obviamente a esta onda má, com os mercados instáveis, os preços dos bens alimentares a disparar, os combustíveis numa escalada galopante e muitas pessoas a sofrer na pele os efeitos de uma situação económica que nunca foi boa, apenas temporariamente razoável, e que agora resvala para uma agonia que atinge essencialmente os que vivem com pensões miseráveis, os desempregados, os jovens à procura do primeiro emprego e também muitos empregados que não conseguem pagar as despesas do dia-a-dia com os seus salários e começam a recorrer, muitos de forma envergonhada, à sopa dos pobres.

Muitas famílias, por outro lado, estão verdadeiramente desesperadas para pagar os empréstimos que fizeram para comprar a casa e o automóvel. A classe média já deixou de o ser há muito e juntou-se à imensa legião de pessoas no limiar da pobreza ou mesmo dos pobres e dos que começam a ter fome.

Os números são impressionantes.

Dois milhões de cidadãos em risco de pobreza, dos quais 24 por cento são crianças, o crédito malparado nunca foi tão alto e multiplicam-se as penhoras de bancos e do fisco. Perante este quadro negro de um sítio que nunca passou do cinzento, é interessante ver como reagem os políticos, agentes económicos e organizações sindicais. Interessante, mas nada que surpreenda verdadeiramente.

Os apelos ao Estado, ao Governo para intervir na economia, no mercado, nos preços, na produção agrícola, nos lucros das empresas e até nos ordenados dos gestores privados multiplicam--se da esquerda à direita. Este sítio pobre, cada vez mais pobre, desesperado, impotente e cada vez mais mal frequentado não aprendeu nada com o passado salazarista e salazarento e sempre que pode deixa cair a máscara moderna, livre e democrática para tentar regressar ao pior dos intervencionismos, aos planos quinquenais, ao condicionamento comercial e industrial, aos cabazes de compras, ao velho celeiro de Portugal, ao vinho tinto que dava de comer a um milhão de portugueses.

A fome, o desemprego, os salários miseráveis, o endividamento das famílias e o paupérrimo crescimento económico não se resolvem com as velhas receitas salazarentas. Resolvem-se com o Estado fora da economia, fora dos negócios, mais pequeno e mais forte ao serviço dos mais pobres. Resolvem-se com o fim do Estado insaciável, monstruoso, que asfixia a economia e liquida os cidadãos.

António Ribeiro Ferreira

Uma Por Dia

Revendedora nos EUA dá revólver para quem compra carro.

Uma revendedora de carros em Butler, no Estado do Missouri, nos Estados Unidos, está oferecendo uma arma de fogo para cada cliente que comprar um automóvel. A promoção Guns and Gas (Armas e Gasolina), da revendedora de veículos Max Motors, dá ao cliente que comprar um carro a chance de escolher entre um revólver ou um cupom de gasolina no valor de U$250. "Até agora 80% dos clientes optaram pelo revólver", disse Walter Moore, um dos gerentes da loja, à rede de televisão KMBC. De acordo com Moore, a loja entrega um certificado ao cliente para receber a arma, que só é entregue após a verificação de sua ficha criminal. Ler noticia

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